A Comissão Nacional da Verdade e a Comissão Estadual da Verdade de São
Paulo realizaram hoje (12) a primeira audiência conjunta para coleta de
depoimentos sobre mortos e desaparecidos no período da ditadura militar.
A sessão, que ocorreu na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo,
trouxe testemunhos sobre os casos de Luiz Eurico Tejera Lisboa e
Eduardo Leite, conhecido como Bacuri.
Foram ouvidas cinco testemunhas sobre a morte de Bacuri - Ariston
Lucena, Ottoni Fernandes, Reinaldo Morano, Calos Pittoli e Roberto de
Assis Tavares - além do depoimento da esposa de Eduardo Leite, Denise
Crispim. Em relação à Luiz Eurico, foram ouvidos Fernando Morais,
Ricardo Carvalho e Suzana Lisboa.
"Nós já tínhamos ouvido depoimentos de vítimas em reuniões da comissão
da verdade, mas não assim, colocar uma vítima com várias testemunhas,
confrontando depoimentos, cobrindo toda uma história da prisão, como foi
no caso do Bacuri, inclusive com alguém que estava no serviço militar
na época", disse a conselheira da Comissão Nacional da Verdade, Rosa
Maria Cardoso.
"Eu acho que o caso do Bacuri, inclusive por documentos que se tem,
muito mais até do que foi apresentado aqui, vai ficar muito comprovado o
tipo de crime que aconteceu. Realmente a morte dele foi ilegal, foi
criminosa, é a morte de uma pessoa que está presa e desarmada. Isso é
inaceitável segundo as próprias leis do regime militar vigente",
acrescentou.
Bacuri foi preso em 1970. Segundo o site do grupo Tortura Nunca Mais, o
drama de Bacuri, que, na época, tinha 25 anos, "é o mais terrível de
todos os casos conhecidos de crime político". Bacuri foi torturado por
meses e chegou a receber de seus algozes, na cela, um jornal que
noticiava sua fuga da prisão. Ele permaneceu preso e incomunicável até
sua morte. A versão dos militares é que ele teria sido morto em um
tiroteio após escapar da prisão.
"Para mim, hoje foi importantíssimo porque é minha vida que volta, é a
história do Eduardo Bacuri que volta, procurando a verdade. Eu estou
pronta agora para conhecer tudo, para encontrar as pessoas, inclusive
aquelas que fizeram a execução dele, que mandaram, eu estou pronta para
me confrontar com eles", disse Denise Crispim.
Já Luiz Eurico Tejera Lisboa, membro da Ação Libertadora Nacional (ALM),
foi preso em circunstâncias desconhecidas em São Paulo, na primeira
semana de setembro de 1972, e estava desaparecido. Em 1979 foi
localizado enterrado, sob o nome de Nelson Bueno, no Cemitério Dom
Bosco, no bairro de Perus, em São Paulo. A versão oficial para sua morte
foi suicídio.
"Estamos aprendendo a fazer a comissão da verdade. Estamos construindo.
Talvez a gente saiba onde quer chegar, mas não sabe como chegar lá. Acho
que hoje foi um dia importante, nós temos 140 biografias a serem
apuradas, são 140 mortos desaparecidos no estado", disse o presidente da
Comissão Estadual da Verdade, o deputado Adriano Diogo.
Agência Brasil
Fonte: http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI6295567-EI306,00-Comissoes+da+verdade+nacional+e+de+SP+fazem+audiencia+conjunta.html
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