Ensaios

Estivemos este tempo todo trabalhando com Informação que não era Arquivística?


A criação de conceitos faz parte do processo científico, com ela conseguimos criar comunidades, especialistas, gerar conhecimento de fato. Mas ao utilizarmos o termo informação arquivística não estamos delimitando por demais nossa área de atuação?

Quando lancei o Manifesto Arquivologia 2.0, destacava que precisávamos criar uma nova abordagem na arquivologia, que incorpore os conceitos transdisciplinares tratados em gestão do conhecimento, arquitetura de informação, taxonomia, entre outros, por exemplo. Era um chamado para que aprofundássemos na academia o debate sobre as novas formas de gerenciar informações em ambientes corporativos, através de portais corporativos e intranets.

Acredito cada vez mais que o nosso objeto passa do documento físico (fim da era da encapsulação) para a gestão de informações orgânicas nos ambientes digitais, que dão suporte para a administração e futuramente para a pesquisa. Nesse sentido, os portais e intranets passam a ser uma nova arena de trabalho de arquivistas, pois é a eles que afluem as informações de tomadas de decisão e que registram as relações entre instituições e pessoas. Mas vejo que, o que estão ali, são informações orgânicas, resultado dessas relações comuns às instituições. Vejo que tudo ali é informação. Mudou o meio (do papel para o digital), mas a relação e que gerou a informação é a mesma.

Do ponto de vista de evolução do objeto, podemos ver que a arquivologia evoluiu da unidade documental (documento) para os arquivos (massa documental custodiada), passando a seguir para a informação orgânica e agora para a chamada informação arquivística. Mas o que é a informação arquivística? O que caracteriza a informação arquivística? É a informação encontrada em arquivos? Mas o que a diferencia da informação orgânica?

A informação arquivística é a informação digital? Poderia dizer que Informação Arquivística no ambiente digital é o conjunto de dados e metadados ligados por sua gênese? Ela é uma informação gerada em ambientes digitas? Resultado de SIGAD? Atuais processos corporativos continuam fazendo as mesmas coisas de 20 anos atrás, hoje os gerentes autorizam orçamentos através de uma interface digital, as áreas recebem demandas por e-mails e os diretores acompanham tudo por dashboards de sistemas de BI (business inteligence). Porque hoje o objeto é a informação Arquivística? O que a difere da informação biblioteconômica? (se de fato os bibliotecários referem-se ao seu trabalho assim).

Segundo o que pude levantar, o termo informação arquivística foi utilizado no Brasil por Lopes em 2000, ela deriva da tradução de Archival Information utilizada lá fora desde meados dos anos 80 do século passado, mas que designa para eles a relação dos princípios arquivísticos e as informações. Como a sua relação umbilical com o produtor; a sua originalidade, logo, a sua unicidade; a sua capacidade de ser avaliada em termos de idade e de utilização.

Também vi que dentre as particularidades da informação arquivística, ainda são assinaladas a natureza limitada dos seus suportes, a acumulação das informações – produzidas ou recebidas – por um indivíduo ou uma instituição, desde que sejam informações capazes de ter significação. E ainda aquelas que se referem às atividades geradoras da informação e o fato de ser a informação arquivística a primeira forma tomada por uma informação registrada, quando da sua criação. (Revista Archives, 1988 apud Lopes, 2000, p.103).

Logo, é como um mantra em japonês, onde duas palavras podem resumir um grande conceito. Acredito que a informação arquivística não é a informação do documento, é por si só a soma dos princípios arquivísticos representados nos valores da informação tanto para a gestão como para a história ou memória. Será mesmo?

Talvez, esperamos por demais o que vem de fora, não tropicalizamos e criamos muito conceitos. Acredito que o conceito de informação arquivística precisa ser claramente definido pela nossa comunidade brasileira para justificar o uso que está tendo. Este termo ainda não existe no Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística.


 Charlley Luz:

Charlley Luz é arquivista, professor da pós-graduação em gestão de documentos da FESPSP e consultor em gestão documental, estratégia de informação e ambientes digitais da Feed Consultoria (www.feedconsultoria.com.br).

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Olhar Arquivístico

 João Paulo Silva de Souza*
Com jeito tímido, mas com forte projeção para galgar um caminho brilhante de reconhecimento, o Olhar Arquivístico <http://olhararquivistico.blogspot.com.br/> completou um ano e dois meses de sua primeira publicação para comunidade informatizada.
Foi em 22 de setembro de 2011 que nasceu um olhar diferenciado no mundo acadêmico-social-arquivístico, se assim posso me referir, com a missão de garimpar informações entre variados blogs e sites, primando sempre pela disseminação ao público em geral. Nasceu uma interface de comunicação entre o blogueiro e o leitor, para o melhoramento e aproveitamento das bases informativas postadas quase que diariamente.
Disponibilizei ao leitor o contador de visualizações do Clustr Maps, que é um contador de acessos de visitantes únicos distribuídos por todo o mundo. Também instalei os App´s de acesso rápido via Smartphones do tipo Java, iOS e Android, para uma melhor interação no mundo tecnológico que vivemos. As informações disponibilizadas na rede mundial de computadores estão em rápida transformação e se não acompanho essa velocidade o blog pode ficar obsoleto com passar dos dias. Por isso, penso sempre na recuperação da informação e disponibilizo o máximo possível para o aproveitamento por cada pessoa que visita o blog.
No decorrer deste ano, o Olhar Arquivístico concorreu ao prêmio Top Blog 2012 com vários outros blogs na categoria: Noticias e Cotidiano. O prêmio é promovido pelo Portal Top Blog Brasil, e assim, com ajuda dos visitantes (leitores e seguidores) consegui projetar o Olhar Arquivístico entre os 100 melhores blogs do ano.
Recentemente, apresentei toda a estrutura do Olhar Arquivístico na disciplina  Ética da Informação, ministrada pela Profa. Dra. Isa Maria Freire no curso de Arquivologia da UFPB, e obtive uma boa recepção por parte dos meus colegas na Turma 2011.2. Nessa oportunidade, fui convidado para ingressar no LTi (Laboratórios de Tecnologias Intelectuais) do Departamento de Ciência da Informação, uma rede de projetos coordenada pela profa. Isa (veja em <http://dci.ccsa.ufpb.br/lti>. Logo depois fui selecionado como Monitor no Projeto de Monitoria do DCI, onde estou coordenando a equipe de produção do blog <sosnormalização>, como apoio à disciplina Metodologia do Trabalho Científico.
O blog Olhar Arquivístico representou uma etapa importante na minha vida acadêmica, quando usei a virtude da coragem para navegar na web como autor. Pretendo me dedicar com afinco, durante minha graduação, para que este projeto permaneça e se desenvolva constantemente, tornando-se referência para academia.
Bem, esta experiência já está sendo transportada para monitoria do Departamento de Ciência da Informação. Depois conto mais.
* Graduando do Curso de Arquivologia da UFPB. Editor do blog Olhar Arquivístico. Monitor do Departamento de Ciência da Informação da UFPB. Coordenador da Equipe de mídias digitais. 

A ALQUIMIA DE ÁREAS DA ARQUIVOLOGIA

 François Braga de Azevedo Filho (*)
Nesses últimos dias, uma conversa com a Profa. Isa Freire e com meu amigo João Paulo (Arquivologia UFPB), me fez refletir como a Arquivologia é interdisciplinar e perceber que ela trabalha com a alquimia de áreas.
A alquimia que conhecemos é aquela que combina elementos da Química, da Matemática, da Filosofia e outras ciências, com uma pitada de Magia e coisas fantasiosas, como a transformação do chumbo em ouro. Essa alquimia contribuiu muito para avanços científicos, através das diversas experiências aplicadas tendo como alguns dos objetivos alcançar o Elixir da Vida e a transmutação de metais em ouro. Já a alquimia do trabalho do arquivista está mais próxima da realidade, em processo de desenvolvimento, e apesar de ter avançado muito nas últimas décadas ainda apresenta uma infinidade de possibilidades a serem descobertas.
A Arquivologia tem uma grande afinidade com a História e a Administração, com as quais possui uma relação antiga, mas também se relaciona com a Informática, colocando em evidência a tecnologia da Informação, com o Direito, na sua gestão documental, e com outras áreas, como a Biblioteconomia e a Ciência da Informação (Comunicação científica).  
A inter e a multidisciplinaridade são sempre exercidas com um especial olhar arquivístico, mas eis que surge a natural característica social da Arquivologia: ela se torna responsável pela criação de uma comunidade científica que interage a todo o tempo. Esse elo criado é o “sine qua non” para o desenvolvimento e o aproveitamento do potencial daqueles que partilham do conhecimento adquirido de cada área em particular.
Com minha ainda pequena experiência, vejo a GED (gestão eletrônica de documentos) como uma das experiências de transformação que a Arquivologia promoveu: ela transmuta a informação contida num suporte físico em um suporte digital. Pura Alquimia Arquivística!
Sou um admirador da TI, e na perspectiva da Arquivologia no mundo fantástico da Alquimia, a Tecnologia da Informação seria uma de nossas “Pedras Filosofais” da atualidade. Pois temos várias aplicações tecnológicas no dia-a-dia da prática arquivística, e com elas certamente iremos obter um “Elixir da Vida” para a Arquivologia.
A alquimia é a possibilidade de dobrar qualquer matéria a favor dos propósitos do alquimista; a Arquivologia, por sua vez, tem essa oportunidade, tem a competência para unir ciências, para fazer um intercâmbio cientifico metodológico entre campos científicos e, aproveitando o que cada um tem de melhor, trazer a inovação para seu campo profissional.
Pensei em alguns termos para definir esse pensamento de união da Arquivologia com a Alquimia, surgiram então: “alquimia arquivística” e “arqui-alquimistas”. Achei ambos interessantes e decidi divulga-los neste ensaio, onde registro a criação dos meus primeiros termos técnicos arquivísticos.
Espero tê-los interessado numa visão alquimista da Arquivologia, como uma condição de interação possível de fazer parte da identidade do arquivista. Certamente ainda há muito para se descobrir no campo da Arquivologia, muito a contribuir em qualquer campo científico para onde “alquimistas” volverem seu olhar arquivístico. Depende de nós, “arqui-alquimistas” do presente, de frente para o futuro.
* Graduando do Curso de Arquivologia da UFPB. Monitor do Departamento de Ciência da Informação da UFPB. Equipe de mídias digitais.

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