quarta-feira, 17 de abril de 2013

Comissão da Verdade do Rio é instalada em antiga sede da OAB

Chico Otávio

O local de trabalho não foi escolhido por acaso. A Comissão Estadual da Verdade, que foi instalada nesta quarta-feira, vai investigar crimes ocorridos durante o regime militar (1964-85). O endereço é a antiga sede do Conselho Federal da OAB. Há quase 33 anos, no mesmo lugar, uma carta-bomba mataria Lyda Monteiro, então secretária do presidente da entidade, Seabra Fagundes. O atentado será uma das prioridades da comissão, cujo presidente, Wadih Damous, ocupa agora a sala atingida pela explosão.

O atentado contra a OAB foi uma espécie de 11 de setembro para os cariocas. No mesmo dia, 27 de agosto de 1980, outra bomba explodiria no gabinete do vereador Antônio Carlos de Carvalho, na Câmara Municipal, ferindo três funcionários, um deles gravemente. Uma terceira bomba, deixada na sede da Sunab, foi desativada a tempo pela polícia. Desde a segunda metade dos anos 1970, uma série de atentados demonstrava a insatisfação de grupos radicais de direita com o processo de abertura política iniciado pelo presidente Ernesto Geisel e mantido pelo sucessor, João Figueiredo.
A comissão, segundo Damous, trabalhará com a hipótese de relação entre os atentados. A suspeita é de que, por trás de grupos paramilitares como MAC e CCC, estariam militares da ativa e civis ligados à comunidade de informações. Os indícios mais fortes ligam a explosão da OAB ao fracassado atentado que mataria, oito meses depois, no estacionamento do Riocentro, o sargento Guilherme Pereira do Rosário. Lotado no Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI-I) e especialista de explosivos, ele fora visto por parentes de Lyda Monteiro, no ano anterior, próximo ao túmulo da ex-funcionária da OAB.
Guilherme Rosário e Wilson Machado, o capitão do DOI ferido pela bomba do Riocentro, pertenciam à subseção de Operações Especial do destacamento. Fontes militares sustentam que, até a morte de Lyda Monteiro, os agentes desta unidade contavam com a conivência dos chefes imediatos para lançar bombas contra organizações ligadas à esquerda e bancas de jornais que vendiam imprensa alternativa. As ações seriam planejadas no bar Garota da Tijuca, a poucos metros do DOI, onde esses militares encontravam-se regularmente com o coronel Freddie Perdigão Pereira, um oficial do SNI com passagem pelos principais centros de tortura do país.
As investigações sobre a bomba da OAB ficaram a cargo da Polícia Federal, que apontou como responsável o servidor público Ronald Watters, tido na comunidade de informações como pessoa ligada à CIA. Nos anos 1960, ele teria participado de um atentado contra a exposição russa no Campo de São Cristóvão, mas o próprio Exército, em investigação paralela, concluiu que Watters estava servindo de bode expiatório para encobrir os verdadeiros criminosos. Ele seria inocentado pela Justiça.
Descartada a linha Watters, as atenções deverão voltar-se para a conexão DOI-SNI, centrada na figura do coronel Freddie Perdigão Pereira, que morreu nos anos 1990. Ele foi acusado oficialmente, no segundo inquérito do caso Riocentro, em 1999, de ter liderado o grupo que levou a bomba para o show em comemoração do dia dos trabalhadores.

Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/comissao-da-verdade-do-rio-instalada-em-antiga-sede-da-oab-8134042#ixzz2QjwxJBae

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