terça-feira, 9 de junho de 2015

O que será que procuram nos arquivos?


*Luiz Eduardo Ferreira da Silva


Arquivo-me entre as correspondências das folhas “envelhecidas”, conservo-me entre meus escritos, guardo com afeto os papeis do tempo, quando tenho saudade de outrora, abro a gaveta e mergulho na infinidade dos documentos, daí entendo que o arquivo é um “retrato encantado” onde me encontro submetido ao mundo.


O que será que procuram nos arquivos?


Nessa data especial, é necessário perceber a relevância dos arquivos. Os arquivos não são apenas conjuntos de documentos, eles pulsam “vida” e se movimentam. Ensinaram-nos a não valorizar os “arquivos”, nos disseram que eles estão “mortos”, por ora, chegamos a acreditar nisso. Mas o arquivo não se esgota no descaso, na negligencia de um país que não arquiva. Ora, cabe-nos interrogar: O que vocês querem dos arquivos?
Nesse contexto, os arquivos realizam o movimento que conduz a sociedade a conservar ou guardar tudo o que é possível, porque o arquivo não é o que escorre da “morte”, ele dura e coexiste como função social. Logo, Por que não reconhecer os arquivos? Nada precisaria opor-se a isto, o arquivo deveria ser o consenso por excelência, através dos arquivos não nos perdemos no tempo. O valor do arquivo não está na “estimação dos documentos”, mas nas suas variadas utilidades, ou seja, no uso que podemos fazer desse lugar, pois se existe uma sociedade há arquivo.
 Assim, os arquivos não são reflexivos da sociedade, ao contrário, a sociedade que é reflexiva dos arquivos, isto é, o arquivo é indispensável. E outras palavras e com rigor ainda maior: os arquivos são condições necessárias para que a sociedade seja expressa nos documentos, ele explicita, produz e conserva. Daí a necessidade de repensar a forma como a importância aos arquivos é colocada no Brasil e buscar um novo pensamento que possibilite sua reconstrução.
  O que está em jogo ao se falar de arquivo no Brasil é a tentativa de amputação que sofre cotidianamente, mormente por aqueles “herdeiros da corrupção”, logo, é primordial romper com esses pensamentos e reconduzir os arquivos a sua função social, Devemos renunciar a margem, a periferia ao se falar em arquivos. Até agora, opúnhamos há penetração do descaso e proclamamos que o arquivo é o lugar que agenciamentos as novas dobras do tecido social. Valorizar o arquivo é dizer que ele não se move em si mesmo, mas na sociedade e em nós. O arquivo nos inspira a conservar o que os insanos querem esquecer e nos faz lembrar que a sociedade está dobrada em cada arquivo que dela desdobra. Por fim, seja como for, nós conhecemos os arquivos, eles estão manifestados nas raízes do social mesmo com certos limites. O arquivo é importante porque vai além de uma guarda, pois ele torna possível a aproximação de um acontecimento.
Contudo, o arquivo é um lugar energizado, uma força encontrada nas cores de cada documento, assim, através dos arquivos revitalizamos e ecoamos o devir visível do quadro social, entre estantes e paredes de um lugar vivífico.




*Professor Assistente A do curso de Arquivologia da Universidade Federal do Pará (UFPA). Doutorando em Ciência da Informação Universidade Federal da Paraíba (2014-2018). Mestre em Ciência da Informação também na UFPB (2012-2013). Licenciado em História pela Universidade Estadual da Paraíba (2010). Bacharel em Arquivologia pela Universidade Estadual da Paraíba (2011).