terça-feira, 31 de janeiro de 2012

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Do papel ao microfilme, rumo à página digital

EDMUNDO LEITE , COORDENADOR DO ARQUIVO - O Estado de S.Paulo
 
"O futuro não é o que se espera. É o que se faz", escreveu Carlos Lacerda na abertura de seu artigo publicado no Estado no dia do centenário do jornal, em 1975. Com seu estilo peculiar, o jornalista e político cassado citava previsões sobre os anos 2000 para dar seu recado sobre o regime ditatorial. "A vida doméstica será automatizada. Conheceremos o computador de bolso. Haverá telefones de bolso. O ensino será programado e a domicílio, por vídeo. O espetáculo escolhido em casa por meio de bibliotecas centrais audiovisuais... A liberdade restituída pela eletrônica."
Em meio aos exercícios futuristas, Lacerda também falava sobre a sua pesquisa no arquivo do Estado para preparar um livro em que contaria a história dos irmãos Julio e Francisco Mesquita, tarefa à qual se dedicou por alguns meses.
Naqueles meados dos anos 1970, o meio mais usual para consultar jornais antigos era folhear o original de papel, em volumosas coleções encadernadas guardadas no arquivo do jornal ou em algumas poucas bibliotecas. O acesso ao acervo do Estado não era um privilégio de Lacerda. O público também podia fazer pesquisas, mas esbarrava nas dificuldades de consulta e reprodução por se tratar de exemplares únicos.
O microfilme, então o meio mais moderno de preservação e difusão, ainda era uma realidade recente e bastante restrita no Brasil. A microfilmagem da coleção integral do Estado havia começado em 1970, em parceria com a Biblioteca do Congresso Americano em Washington. O trabalho estaria concluído em dois anos, mas somente em 1979 uma cópia seria entregue à Biblioteca Nacional, que continuaria o trabalho.
Foi esse conjunto de mais de 2 mil rolos de microfilmes que, mais de três décadas depois, permitiu a digitalização do gigantesco acervo de 137 anos de maneira mais rápida e eficiente.
Após minuciosa análise técnica, as melhores unidades de microfilme armazenadas no arquivo do jornal e na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, foram selecionadas para serem escaneadas por um equipamento especial.
Com os milhões de arquivos digitais resultantes, um software de tratamento das imagens entrou em ação para eliminar imperfeições. Paralelamente, uma equipe dedicava-se a indexar e organizar as páginas em cadernos.
Desses dois processos dependia o sucesso da etapa seguinte: converter as imagens em textos, de modo que todo o conteúdo possa ser encontrado por meio de busca por palavras. Para isso, um software de reconhecimento de caracteres varreu todas as páginas, transformando imagens em letras. Quando o resultado não era satisfatório, as páginas originais foram fotografadas novamente.
Perfiladas, as páginas cobririam 1.440 km, distância entre São Paulo e Vitória da Conquista (BA). Encadernados, os volumes ocupam 230 metros, altura de um prédio de 76 andares. Digitalizadas, estarão em qualquer computador. Passado, presente e futuro a apenas alguns cliques.

Fonte:
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,do-papel-ao-microfilme-rumo-a-pagina-digital,818346,0.htm?p=1
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,do-papel-ao-microfilme-rumo-a-pagina-digital,818346,0.htm?p=2

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Turma de Arquivologia - 2012.2 - UFPB


124239481 ANA PAULA DA SILVA ALBUQUERQUE ARQUIVOLOGIA ______(BACH)-JP-N 2
124131744 ANGELA MARIA XAVIER ARQUIVOLOGIA__________________ (BACH)-JP-N 2
124141312 CARLOS EDUARDO CAMPOS DA SILVA ARQUIVOLOGIA _____(BACH)-JP-N 2
124216716 CICERA CAMILA MARTINS DE MACEDO ARQUIVOLOGIA _____(BACH)-JP-N 2
124223885 DANIEL PERICLES SANTOS CANUTO ARQUIVOLOGIA _______(BACH)-JP-N 2
124201845 DANIELLE TAINE RAMOS DE SOUZA ARQUIVOLOGIA ________(BACH)-JP-N 2
124149634 EDIANA BRAZ DA SILVA ARQUIVOLOGIA ___________________(BACH)-JP-N 2
124139143 ELENILDO DO NASCIMENTO COSTA ARQUIVOLOGIA ________(BACH)-JP-N 2
124219006 ELIZANGELA DOS SANTOS ROCHA ARQUIVOLOGIA _________(BACH)-JP-N 2
124192219 EMILIA CRISTINA EVANGELISTA FEITOSA ARQUIVOLOGIA ___(BACH)-JP-N 2
124179126 GEORGIA CRISTINY BARBOSA DE OLIVEIRA ARQUIVOLOGIA _(BACH)-JP-N 2
10110352 GUTEMBERGY SANTOS MATIAS ARQUIVOLOGIA_____________ (BACH)-JP-N 2
124231044 HANNAWEY JUVENCIO CAVALCANTE ARQUIVOLOGIA________ (BACH)-JP-N 2
124193461 INDALECIA DE ANDRADE DOS SANTOS ARQUIVOLOGIA ______(BACH)-JP-N 2
124214512 IRANDI POLICARPO DA SILVA JUNIOR ARQUIVOLOGIA _______(BACH)-JP-N 2
124143820 JEFERSON FERNANDES DANTAS ARQUIVOLOGIA ___________(BACH)-JP-N 2
124214438 JOAO EMANOEL FIGUEIREDO PEREIRA ARQUIVOLOGIA______ (BACH)-JP-N 2
124240862 JOSETE BARBOSA DE LIMA ARQUIVOLOGIA ________________(BACH)-JP-N 2
124186007 JULIANA RAQUEL DE ARAUJO ROCHA ARQUIVOLOGIA _______(BACH)-JP-N 2
124193850 KALYNA AMORIM PESSOA ARQUIVOLOGIA_________________ (BACH)-JP-N 2
124126334 KESSIA KARLA PORTELA SILVA ARQUIVOLOGIA ____________(BACH)-JP-N 2
124187100 LADY DIANA REGIS DE OLIVEIRA ARQUIVOLOGIA ___________(BACH)-JP-N 2
124212935 LAYANA DE MORAIS DIAS SILVA ARQUIVOLOGIA ____________(BACH)-JP-N 2
124236593 LAYANA DO NASCIMENTO SILVA ARQUIVOLOGIA ___________(BACH)-JP-N 2
124245181 LEANDRO GOMES DA SILVA ARQUIVOLOGIA_______________ (BACH)-JP-N 2
124187390 LEONILSON SANTOS NASCIMENTO ARQUIVOLOGIA _________(BACH)-JP-N 2
124238930 LILIANE DA COSTA PONTES ARQUIVOLOGIA _______________(BACH)-JP-N 2
124221966 LUCIELE ALVES DA SILVA ARQUIVOLOGIA __________________(BACH)-JP-N 2
124117800 MARIA DAS GRACAS CASSIANO ARQUIVOLOGIA _____________(BACH)-JP-N 2
124169791 RENATA DANIEL SOARES ARQUIVOLOGIA __________________(BACH)-JP-N 2
124186527 ROSELANIA ARAUJO DA SILVA ARQUIVOLOGIA ______________(BACH)-JP-N 2
124188129 TACIANA ALVES PEREIRA ARQUIVOLOGIA___________________ (BACH)-JP-N 2
124216039 TATIANE DOS SANTOS VICENTE ARQUIVOLOGIA_____________ (BACH)-JP-N 2
124142141 THAYSE KAROLINA PINHEIRO BANDEIRA ARQUIVOLOGIA_____ (BACH)-JP-N 2
124223356 WANDSON AGUIAR CABRAL ARQUIVOLOGIA ________________(BACH)-JP-N 2

Turma de Arquivologia - 2012.1 - UFPB


124233101 ABRAAO CLEMENTINO DA SILVA ARQUIVOLOGIA ________(BACH)-JP-N 1
124168881 ADALGISO DE PAIVA FEREIRA ARQUIVOLOGIA__________ (BACH)-JP-N 1
124214304 ADAMS DE SOUZA NICOLAU ARQUIVOLOGIA ____________(BACH)-JP-N 1
124244347 ALEXANDRE DO NASCIMENTO SILVA ARQUIVOLOGIA _____(BACH)-JP-N 1
124174192 ANGELA HENRIQUE MEIRELES ARQUIVOLOGIA __________(BACH)-JP-N 1
124126024 BEETHOVEN FREDERICO BEUTENMULLER ARQUIVOLOGIA _(BACH)-JP-N 1
124189369 CAMILA AUGUSTA LIMA ALVES ARQUIVOLOGIA __________(BACH)-JP-N 1
124122292 CICERO RICARDO EUFRAUZINO RODRIGUES ARQUIVOLOGIA_ (BACH)-JP-N 1
124151262 CRISLAYNN RITSE CUNHA DOS SANTOS ALVES ARQUIVOLOGIA_ (BACH)-JP-N 1
124197430 EDILZA DA PAIXAO RODRIGUES ARQUIVOLOGIA ___________(BACH)-JP-N 1
124204750 ELINES CAVALCANTE MELO ARQUIVOLOGIA ______________(BACH)-JP-N 1
115009593 GABRIELLE DA SILVA GOMES ARQUIVOLOGIA _____________(BACH)-JP-N 1
124219901 GEFERSON SANTANA NASCIMENTO ARQUIVOLOGIA ________(BACH)-JP-N 1
124180581 GEOVANE TRAJANO DA SILVA ARQUIVOLOGIA ______________(BACH)-JP-N 1
124143561 GLEYSON CARVALHO DE ALMEIDA ARQUIVOLOGIA __________(BACH)-JP-N 1
124186504 ISABELLA KALYNA GOMES RIBEIRO ARQUIVOLOGIA _________(BACH)-JP-N 1
124189512 JAQUELINE SAMARA DAS NEVES ANDRADE ARQUIVOLOGIA __(BACH)-JP-N 1
124200792 JULIA GOMES BARBOSA ARQUIVOLOGIA___________________ (BACH)-JP-N 1
124218723 JUSSARA SILVA DE SOUZA ARQUIVOLOGIA_________________ (BACH)-JP-N 1
124125328 LUCITANIA PEREIRA DE AQUINO ARQUIVOLOGIA ____________(BACH)-JP-N 1
124216790 MARIA CRISTIANE DE SOUZA MEDEIROS CRUZ ARQUIVOLOGIA_ (BACH)-JP-N 1
124243735 MARIA LUCIA SOUZA DE OLIVEIRA ARQUIVOLOGIA ___________(BACH)-JP-N 1
124242873 MARIA LUCIANA RODRIGUES DE MOURA ARQUIVOLOGIA ______(BACH)-JP-N 1
115031475 NIVEA MARIA RIBEIRO DA SILVA ARQUIVOLOGIA _____________(BACH)-JP-N 1
124216124 ODETE KARENINA CAVALCANTI DE FARIAS ARQUIVOLOGIA ___(BACH)-JP-N 1
124231094 OTACIANA SOARES DA SILVA ARQUIVOLOGIA _______________(BACH)-JP-N 1
124243337 RODRIGO DOS SANTOS ARQUIVOLOGIA____________________ (BACH)-JP-N 1
124214944 SEBASTIAO FRANCISCO GOMES ARQUIVOLOGIA ____________(BACH)-JP-N 1
124203031 SONIA MARIA DE ANDRADE VIEIRA FEITOSA ARQUIVOLOGIA __(BACH)-JP-N 1
124189519 SUELY DA SILVA VIANA ARQUIVOLOGIA ____________________(BACH)-JP-N 1
124194145 THAISE SOUZA DA SILVA ARQUIVOLOGIA ___________________(BACH)-JP-N 1
124216192 TIAGO ANTONIO LIMA ROCHA ARQUIVOLOGIA _______________(BACH)-JP-N 1
124189864 UTNANT SATURNINO SILVA ARQUIVOLOGIA _________________(BACH)-JP-N 1
124244261 VANESSA CAETANO FRANCA ARQUIVOLOGIA _______________(BACH)-JP-N 1
124248822 VANESSA KELLY MACEDO NORONHA ARQUIVOLOGIA_____ (BACH)-JP-N 1
124239197 VERONICA GILA DE AMORIM BORGES ARQUIVOLOGIA _____(BACH)-JP-N 1
124208309 WELTON SATURNINO SILVA ARQUIVOLOGIA ______________(BACH)-JP-N 1

MEC divulga a segunda chamada de aprovados do Sisu

Confira no site:
http://sisualuno.mec.gov.br/

Nota da COPERVE sobre as notas do Vestibular 2012


Informativo nº 005/2012 
A " A COPERVE esclarece, a seguir, o lamentável equívoco ocorrido hoje, às 17h, na divulgação da primeira lista de classificados no PSS 2012:
  •  Existem duas formas de consulta à listagem no site da COPERVE: A primeira, pela letra inicial do nome do candidato. Ao utilizar essa forma, o candidato obtém o resultado correto sobre a sua situação. A segunda, através de consulta à listagem completa, em ordem alfabética. Essa consulta não fornecia, a partir das 17h, o resultado correto, uma vez que foi utilizada, erroneamente, a listagem do ano passado. Alguns órgãos da imprensa receberam da COPERVE, às 17h, essa listagem incorreta.
  • Detectado o problema, a listagem completa, em ordem alfabética, foi retirada do site da COPERVE e providenciada a devida substituição às 18h 50min de hoje. João Pessoa, 25 de janeiro de 2012 Prof. João Batista Correia Lins Filho Presidente da COPERVE


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Coperve divulga resultado do PSS 2012 da UFPB; confira aqui:

Para todos os Aprovados no Vestibular da UFPB - 2012 Parabéns!

Segue o link para o resultado:
http://olhararquivistico.blogspot.com/p/resultado-do-pss-2012-ufpb_24.html

Afinal, o que é valor histórico?!

Por Laila Maia Galvão
Durante encontro de história do direito realizado no ano passado, na Universidade Federal de Santa Catarina, o excelente pesquisador do departamento de história Paulo Pinheiro Machado fez um relato de um dos momentos mais difíceis de sua pesquisa sobre a guerra do contestado. Ele descreveu como alguns fóruns de justiça passaram a jogar no lixo, literalmente, todo os processos mais antigos das respectivas comarcas e como ele e outros colegas historiadores se atiraram nesses lixos a fim de resgatar esse material de inestimável valor histórico.
No dia 29 de dezembro de 2011 entrou em vigor a resolução 474, do STF. Os processos e documentos do STF poderão receber o selo “Tema Relevante” a partir de critérios de análise que levam em conta “relevância” e “valor histórico”. A resolução  estabelece que “o valor histórico é o atributo concedido aos processos e demais documentos que representem um acontecimento, fato ou situação relevante para a história do Tribunal e da sociedade, bem assim os de grande repercussão nos meios de comunicação”.

A resolução parece acompanhar as sugestões contidas na Recomendação 37 do CNJ, de 15 de agosto de 2011. A recomendação, que pedia aos Tribunais a observância das normas do Programa Nacional de Gestão Documental e Memória do Poder Judiciário – Proname, já havia gerado polêmica, especialmente porque determinava o armazenamento eletrônico somente do inteiro teor das sentenças, das decisões terminativas, dos acórdãos e das decisões recursais. O restante dos autos seria eliminado.

Os critérios de (i) repercussão nos meios de comunicação, (ii) acontecimento relevante para o Tribunal e  (iii) acontecimento relevante para a história da sociedade, presentes na resolução 474, podem ser bastante vagos. A resolução, então, detalha como observá-los na prática. Terão valor histórico os processos referentes aos antigos Tribunais Superiores (Tribunal da Relação, Casa da Suplicação e Supremo Tribunal de Justiça); à nomeação, posse, e atuação dos ministros do STF; a personalidades de renome nacional e internacional; a revoluções, rebeliões e demais movimentos sociais no Brasil e no exterior; problemas fronteiriços entre Estados da Federação; atos normativos do Tribunal; entre outros.
Tais categorias de processos, os quais são considerados, de acordo com a resolução, “de potencial histórico”, pretendem englobar aquilo que poderia ser de considerável “valor histórico”. O problema é que, muitas das vezes, pequenos conflitos contidos em processos de pessoas comuns podem ser tão ou mais importantes para a pesquisa histórica a respeito de uma determinada sociedade. São processos sobre violência contra mulheres, batalhas judiciais por disputas de terras, luta por moradia, etc. A história do direito do país não se esgota na sucessão de ministros do STF! Não se trata de negar a relevância de processos de maior repercussão e de políticos famosos. Trata-se apenas de não reduzir a nossa história do Brasil a isso.
A Associação Nacional de História – ANPUH  lançou nota criticando duramente a resolução: “O documento causa perplexidade aos historiadores e a todos aqueles que, minimamente, tem acompanhado o desenvolvimento da historiografia contemporânea, em especial por duas razões: por procurar estabelecer -por decreto- o que é ou não histórico e por apontar como subsídio para essa classificação critérios considerados ultrapassados há, pelo menos, um século”.
A ANPUH critica essa visão de história do século XIX que atribui importância aos grandes eventos e às grandes personalidades. Critica também que o fato de que documentos da gestão interna do STF, como planejamentos estratégicos, convênios e atos administrativos, tenham relevância por si só, num “exercício narcísico” da Justiça, “desconsiderando que neles estão contidos dados relevantes para a história da sociedade brasileira como um todo”.
Não existe um valor histórico intrínseco, na essência. A concepção de valor histórico é construída e, por isso, é mutável. O mesmo ocorre com o próprio conceito de história. A imposição do que é significativo historicamente e do que não é, sem a promoção de um diálogo aberto e transparente com a sociedade, a principal interessada na preservação desse acervo, soa como algo autoritário. Há uma clara disputa no campo da historiografia e, ao que parece, mais uma vez é o povo que figurará como coadjuvante de sua própria história.
Por fim, a ANPUH chama atenção para a forma pela qual é atribuído o valor histórico e defende que tal atribuição seja realizada por comissões multidisciplinares, “das quais participem com voz ativa historiadores com experiência na pesquisa histórica e conhecimento dos debates historiográficos contemporâneos”. Isso porque a resolução determina que a atribuição do valor histórico caberá ao relator do processo ou ao presidente do STF, quando se tratar de processos em trâmite, ao diretor-geral da Secretaria, nos casos de processo administrativo, e ao presidente da Comissão Permanente de Avaliação de Documentos (CPAD), para processo arquivado e encaminhado à deliberação da Comissão.
De fato, o trâmite para decidir qual processo possui valor histórico é bastante restrito ao Judiciário. A implementação de tais comissões multidisciplinares, ao direcionarem olhares distintos para os documentos, tornariam o procedimento mais aberto e mais plural. No entanto, é preciso ir além. Por que não questionar quais são as prioridades dos gastos no Judiciário? Por que não realizar um investimento para que esses arquivos, que contam um pouco da história do país, sejam microfilmados ou preservados digitalmente? Definir, de forma mais democrática, os gastos do Judiciário seria uma boa medida após um ano repleto de denúncias relativas à falta de transparência desse poder.

Fonte: http://brasiledesenvolvimento.wordpress.com/2012/01/21/afinal-o-que-e-valor-historico

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O Museu e o Arquivo Técnico da Ducati foram reconhecidos como Patrimônio Cultural Italiano

Rico em documentação técnica e unidades muito bem preservadas tanto de motores como de motocicletas, além de um completo registro da empresa, o museu é também parte importante da história industrial italiana de 1946 até hoje, quando a Ducati começou a produção de motores a combustão e motocicletas. O reconhecimento oficial reforça a sua condição de marca icônica italiana.


Os visitantes do Museu Ducati acompanham os principais momentos da longa história da empresa, percebendo que a Ducati sempre teve uma paixão pela inovação, filosofia que ainda hoje norteia a companhia. A história vai desde o início em 4 de julho de 1926 pelos irmãos Adriano, Bruno e Cavalieri Marcello Ducati e seu humilde início como produtores de componentes de rádio, para o estabelecimento da atual fábrica em Borgo Panigale. Que foi construída no início da Segunda Guerra Mundial e destruída durante um bombardeio aéreo em 12 de outubro de 1944.
Mas os irmãos Ducati nunca desistiram. E depois de reconstruída,  a fábrica entrou finalmente na era da produção de motocicletas. E já em 1946 começou a produzir o Cucciolo, um motor auxiliar para bicicletas, que foi um sucesso de produção em massa, em uma Itália pós-guerra desesperada para o transporte acessível.
Ao lado dos irmãos, a história da empresa se passa também com Giuseppe Montano, que entre 1952 e 1968 orquestrou a ação da Ducati nas corridas de moto, com a raça vencedora das soluções técnicas mais tarde usadas nos modelos de produção. Como é até hoje. E ao trabalho de Giuseppe Montano se somou o do lendário engenheiro Fabio Taglioni. A história da Ducati foi moldada pela carreira deste notável engenheiro, de inovadores projetos. Entre suas tantas  obras primas estão o sistema Desmodrômico de comando de válvulas e a configuração do motor L-twin, o bicilíndrico a 90º.
Em 1954  o mundo viu a chegada da Sport Ducati Gran 100, conhecida como a Marianna. Vieram também eventos como o A Volta da Itália e outras corridas de longa distância como a Milão-Taranto. E então em 1956 a primeira vitória internacional da Ducati, na Suécia, com a 125 Gran Prix Desmo. E no início dos anos 1960 vieram motocicletas de rua e estrada, como a Ducati 175 e Scrambler, um enorme sucesso no mercado norte-americano.
Em 1972 a Ducati venceu as  200 Milhas de Imola com a Desmo 750, um marco que introduziu a produção comercial da linha 750 Super Sport, mais tarde seguida pela Super Sport 900, uma versão de corrida da que foi montada para a vitória no Tourist Trophy em 1978, pilotada por ninguém menos que Mike Hailwood, um dos maiores campeões mundiais de moto – e depois de carro.
O modelo Pantah 500 de 1979 e a chegada de Claudio e Gianfranco Castiglioni – os donos da Cagiva, que assumiu a empresa – pavimentaram o caminho para a nova era das Superbike e da família Monster, de modelos em linha até hoje.
Em 1996, a Ducati foi comprada pela Texas Pacific Group e, mais tarde era operada na bolsa de valores como a Ducati Motor Holding. Hoje, a Ducati é de propriedade da família Bonomi e seu patrimônio histórico e cultural é cultuado em nome das pessoas dedicatas a este fabricante único, que continua a produzir modelos icônicos e cada vez mais especiais de motocicletas.

Na atualidade, enquanto a versátil Multistrada 1200, a Diavel revolucionária e a futurista Ducati 1199 Panigale são exemplos de Ducatis que vão garantir o sucesso mundial, a sua história agora garantida oficialmente como patrimônio italiano são autenticadas.
Sobre a Ducati
Fundada em 1926, a Ducati vem fabricando motocicletas de inspiração esportiva desde 1946. Elas são caracterizadas pela performance dos seus motores desmodrômicos,  pelo design inovador e tecnologia original e de vanguarda. Abrangendo diversos segmentos de mercado, a gama de motocicletas da Ducati é dividida em famílias de modelos, que incluem: Diavel, Hypermotard, Monster, Multistrada, Streetfighter e Superbike.
Estes autênticos ícones do “made in Italy” são vendidos em mais de 80 países ao redor do mundo, com concentração no mercado europeu, norte-americano, mercados da Ásia/Pacífico, e agora no Brasil.  A marca compete tanto na Superbike World Championship com uma equipe oficial, como no Campeonato Mundial de MotoGP. Na Superbike, ela tem mais vitórias e títulos que todas as outras marcas juntas. São 14 títulos mundiais de pilotos, 17 de construtores e mais de 300 vitórias. Na Moto GP tem também os títulos de pilotos e construtores em 2007.
Fontes: Motonline – Don Thomaz e fotos divulgação
http://www.arquivista.net/2012/01/24/o-museu-e-o-arquivo-tecnico-da-ducati-foram-reconhecidos-como-patrimonio-cultural-italiano/

Modelos de digitalização

Nos últimos meses tenho acompanhado licitações em que o objeto trata da digitalização de documentos. Essas licitações envolvem a aquisição de uma solução abrangendo scanners de documentos, softwares de captura e em alguns casos servidores e discos para armazenamento, para a montagem de um ambiente completo de digitalização. 
Um fato que chama a atenção em vários desses editais é no que tange às especificações de scanners e também dos softwares de captura. Essas especificações mais parecem uma cópia exata de um catálogo de um determinado fornecedor ou então uma colcha de retalhos com especificações recolhidas de vários fornecedores.
No primeiro caso, o resultado seria de que as chances de somente um fornecedor atender a todas as condições para vencer o certame é muito grande. E no segundo caso, as chances de algum fornecedor atender a todas as especificações é muito pequena.
Em ambos os casos, a questão mais importante seria se as especificações estão de fato atendendo a todas as necessidades referentes ao projeto de digitalização de documentos.
Documentos e conteúdos de documentos em papel são de longe os mais difíceis de ser gerenciados, pois dependem de uma série de fatores para se tornar o projeto viável e confiável.
Os scanners e softwares que controlam todas as etapas da digitalização são peças fundamentais para garantir o sucesso de qualquer projeto de digitalização e devem ser dimensionados levando em consideração, principalmente, questões relativas ao tracionamento do documento e processamento de imagens de forma a garantir maior fidelidade em relação ao original e atender as condições físicas dos documentos.
Quanto ao software de captação, que vai controlar o scanner e perfazer e controlar as atividades na digitalização, como controle de qualidade, indexação, verificação e exportação, deve ter como foco a questão da parametrização, customização, automação, segurança e controles. Produzindo imagens fiéis ao original e índices precisos e validados.
Toda essa preocupação deve-se à importância da correta digitalização no Gerenciamento de Conteúdos e Documentos. Imagens onde não é possível a leitura das informações pertinentes ou a não-localização de uma imagem geram custos recorrentes sempre que este documento seja necessário.
Resumindo, a digitalização deve ser feita uma só vez e muito bem-feita para que todos os usuários, sempre que necessitarem desse documento, sejam atendidas de forma adequada, garantindo a localização e acesso à imagem do documento com qualidade de imagem onde seja possível a leitura de todas as informações pertinentes.
E para que isso possa ser real, a especificação deve ser a mais adequada possível, pois caso contrário podemos estar tanto superdimensionando uma solução quanto subdimensionando, gerando custos adicionais, prazos não cumpridos e insatisfação por parte dos usuários.
Outra modalidade seria a contração de serviços de digitalização, onde empresas especializadas seriam contratadas para executar a digitalização de todo o acervo. Para tal, seriam alocados toda a infraestrutura de software e hardware, bem como todo o recurso humano para a operação. Nesse modelo, normalmente é precificado por imagem gerada, incluindo todos os custos pertinentes.
Um terceiro modelo, que tenho sempre citado em meus cursos e palestras, e que cada vez mais se mostra viável, seria a contratação de uma solução na modalidade similar ao outsourcing de impressão, onde a empresa contratada forneceria scanners e softwares, podendo até mesmo incluir infraestrutura de TI, para montar um ambiente de digitalização e a cobrança seria por imagem gerada pela solução. A operação ficaria a cargo do órgão.
Nesse modelo, tanto o software como o scanner devem atender aos requisitos dos processos e sempre que for necessário, readequar a solução na medida em que os volumes alterem ou as necessidades dos processos demandem novas funcionalidades.
Com isso, o parque instalado sempre estará dimensionado de acordo com as demandas dos processos, evitando erros de dimensionamento, além de permitir o cumprimento de  custos e prazos planejados e com isso garantir o sucesso da operação.
Logicamente esse modelo não se aplica a todos os projetos, porém pode ser oportuno considerar no momento de detalhar a forma de contratação e comparar todos os pontos de cada modelo. [/private]
 * Texto escrito por Wilton Tamane, administrador de empresas especializado em sistemas e técnico em Eletrônica Industrial. Consultor na área de scanners e gerenciamento de documentos.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Umberto Eco: "O excesso de informação provoca amnésia"


O escritor italiano diz que a internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio porque ela não filtra o conhecimento e congestiona a memória do usuário.

LUÍS ANTÔNIO GIRON, DE MILÃO

PROFESSOR O pensador e romancista italiano Umberto Eco completa 80 anos nesta semana. Ele está escrevendo sua autobiografia intelectual (Foto: Eric Fougere/VIP Images/Corbis)
O escritor e semiólogo Umberto Eco vive com sua mulher em um apartamento duplo no segundo e terceiro andar de um prédio antigo, de frente para o palácio Sforzesco, o mais vistoso ponto turístico de Milão. É como se Alice Munro morasse defronte à Canadian Tower em Toronto, Hakuri Murakami instalasse sua casa no sopé do monte Fuji, ou então Paulo Coelho mantivesse uma mansão na Urca, à sombra do Pão de Açúcar. "Acordo todo dia com a Renascença", diz Eco, referindo-se à enorme fortificação do século XV. O castelo deve também abrir os portões pela manhã com uma sensação parecida, pois diante dele vive o intelectual e o romancista mais famoso da Itália.
Um dos andares da residência de Eco é dedicado ao escritório e à biblioteca. São quatro salas repletas de livros, divididas por temas e por autores em ordem alfabética. A sala em que trabalha abriga aquilo que ele chama de "ala das ciências banidas", como ocultismo, sociedades secretas, mesmerismo, esoterismo, magia e bruxaria. Ali, em um cômodo pequeno, estão as fontes principais dos romances de sucesso de Eco: O nome da rosa (1980), O pêndulo de Foucault (1988), A ilha do dia anterior (1994), Baudolino (2000), A misteriosa chama da rainha Loana (2004) e O cemitério de Praga. Publicado em 2010 e lançado com sucesso no Brasil em 2011, o livro provocou polêmica por tratar de forma humorística de um assunto sério: o surgimento do antissemitismo na Europa. Por motivos diversos, protestaram a igreja católica e o rabino de Roma: aquela porque Eco satirizava os jesuítas ("são maçons de saia", diz o personagem principal, o odioso tabelião Simone Simonini), este porque as teorias conspiratórias forjadas no século XIX - como o Protocolo dos sábios do Sião - poderiam gerar uma onda de ódio aos judeus. Desde o início da carreira, em 1962, como autor do ensaio estético Obra aberta, Eco gosta de provocar esse tipo de reação. Mesmo aos 80 anos, que completa em 5 de janeiro, parece não perder o gosto pelo barulho. De muito bom humor, ele conversou com Época durante duas horas sobre a idade, o gênero que inventou - o suspense erudito -, a decadência europeia e seu assunto mais constante nos últimos anos: a morte do livro. É de pasmar, mas o maior inimigo da leitura pelo computador está revendo suas posições - e até gostando de ler livros... pelo iPad que comprou durante sua última turnê americana.

ÉPOCA - Como o senhor se sente, completando 80 anos?
Umberto Eco -
 Bem mais velho! (Risos.) Vamos nos tornando importantes com a idade, mas não me sinto importante nem velho. Não posso reclamar de rotina. Minha vida é agitada. Ainda mantenho uma cátedra no Departamento de Semiótica e Comunicação da Universidade de Bolonha e continuo orientando doutorandos e pós-doutorandos. Dou muita palestra pelo mundo afora. E tenho feito turnês de lançamento de O cemitério de Praga. Acabo de voltar de uma megaexcursão pelos Estados Unidos. Ela quase me custou o braço. Estou com tendinite de tanto dar autógrafos em livros. 
ÉPOCA - O senhor tem sido um dos mais ferrenhos defensores do livro em papel. Sua tese é de que o livro não vai acabar. Mesmo assim, estamos assistindo à popularização dos leitores digitais e tablets. O livro em papel ainda tem sentido?
Eco -
 Sou colecionador de livros. Defendi a sobrevivência do livro ao lado de Jean-Claude Carrière no volume Não contem com o fim do livro. Fizemos isso por motivos estéticos e gnoseológicos (relativo ao conhecimento). O livro ainda é o meio ideal para aprender. Não precisa de eletricidade, e você pode riscar à vontade. Achávamos impossível ler textos no monitor do computador. Mas isso faz dois anos. Em minha viagem pelos Estados Unidos, precisava carregar 20 livros comigo, e meu braço não me ajudava. Por isso, resolvi comprar um iPad. Foi útil na questão do transporte dos volumes. Comecei a ler no aparelho e não achei tão mau. Aliás, achei ótimo. E passei a ler no iPad, você acredita? Pois é. Mesmo assim, acho que os tablets e e-books servem como auxiliares de leitura. São mais para entretenimento que para estudo. Gosto de riscar, anotar e interferir nas páginas de um livro. Isso ainda não é possível fazer num tablet. 
ÉPOCA - Apesar dessas melhorias, o senhor ainda vê a internet como um perigo para o saber?
Eco -
 A internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar. Vamos tomar como exemplo o ditador e líder romano Júlio César e como os historiadores antigos trataram dele. Todos dizem que foi importante porque alterou a história. Os cronistas romanos só citam sua mulher, Calpúrnia, porque esteve ao lado de César. Nada se sabe sobre a viuvez de Calpúrnia. Se costurou, dedicou-se à educação ou seja lá o que for. Hoje, na internet, Júlio César e Calpúrnia têm a mesma importância. Ora, isso não é conhecimento. 
ÉPOCA - Há uma solução para o problema do excesso de informação?ÉPOCA - Mas o conhecimento está se tornando cada vez mais acessível via computadores e internet. O senhor não acha que o acesso a bancos de dados de universidades e instituições confiáveis estão alterando nossa noção de cultura?
Eco -
 Sim, é verdade. Se você sabe quais os sites e bancos de dados são confiáveis, você tem acesso ao conhecimento. Mas veja bem: você e eu somos ricos de conhecimento. Podemos aproveitar melhor a internet do que aquele pobre senhor que está comprando salame na feira aí em frente. Nesse sentido, a televisão era útil para o ignorante, porque selecionava a informação de que ele poderia precisar, ainda que informação idiota. A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes. 
Eco - Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar. 

ÉPOCA - O senhor já está pensando em um novo romance depois de O cemitério de Praga?
Eco -
 Vamos com calma. Mal publiquei um e você já quer outro. Estou sem tempo para ficção no momento. Na verdade, vou me ocupar agora de minha autobiografia intelectual. Fui convidado por uma instituição americana, Library of Living Philosophers, para elaborar meu percurso filosófico. Fiquei contente com o convite, porque passo a fazer parte de um projeto que inclui John Dewey, Jean-Paul Sartre e Richard Rorty - embora eu não seja filósofo. Desde 1939, o instituto convida um pensador vivo para narrar seu percurso intelectual em um livro. O volume traz então ensaios de vários especialistas sobre os diversos aspectos da obra do convidado. No final, o convidado responde às dúvidas e críticas levantadas. O desafio é sistematizar de uma forma lógica tudo o que já fiz...
ÉPOCA - Como lidar com tamanha variedade de caminhos?
Eco -
 Estou começando com meu interesse constante desde o começo da carreira pela Idade Média e pelos romances de Alessandro Manzoni. Depois vieram a Semiótica, a teoria da comunicação, a filosofia da linguagem. E há o lado banido, o da teoria ocultista, que sempre me fascinou. Tanto que tenho uma biblioteca só do assunto. Adoro a questão do falso. E foi recolhendo montes de teorias esquisitas que cheguei à ideia de escrever O cemitério de Praga.
ÉPOCA - Entre essas teorias, destaca-se a mais célebre das falsificações, O protocolo dos sábios de Sião. Por que o senhor se debruçou sobre um documento tão revoltante para fazer ficção?
Eco - 
Eu queria investigar como os europeus civilizados se esforçaram em construir inimigos invisíveis no século XIX. E o inimigo sempre figura como uma espécie de monstro: tem de ser repugnante, feio e malcheiroso. De alguma forma, o que causa repulsa no inimigo é algo que faz parte de nós. Foi essa ambivalência que persegui em O cemitério de Praga. Nada mais exemplar que a elaboração das teorias antissemitas, que viriam a desembocar no nazismo do século XX. Em pesquisas, em arquivos e na internet, constatei que o antissemitismo tem origem religiosa, deriva para o discurso de esquerda e, finalmente, dá uma guinada à direita para se tornar a prioridade da ideologia nacional-socialista. Começou na Idade Média a partir de uma visão cristã e religiosa. Os judeus eram estigmatizados como os assassinos de Jesus. Essa visão chegou ao ápice com Lutero. Ele pregava que os judeus fossem banidos. Os jesuítas também tiveram seu papel. No século XIX, os judeus, aparentemente integrados à Europa, começaram a ser satanizados por sua riqueza. A família de banqueiros Rotschild, estabelecida em Paris, virou um alvo do rancor social e dos pregadores socialistas. Descobri os textos de Léo Taxil, discípulo do socialista utópico Fourier. Ele inaugurou uma série de teorias sobre a conspiração judaica e capitalista internacional que resultaria em Os protocolos dos sábios do Sião, texto forjado em 1897 pela polícia secreta do czar Nicolau II. 
ÉPOCA - O senhor considera os Procotolos uma das fontes do nazismo?
Eco -
 Sem dúvida. Adolf Hitler, em sua autobiografia, Minha luta, dava como legítimo o texto dosProtocolos. Hitler tomou como verdadeira uma falsificação das mais grosseiras, e essa mentira constitui um dos fundamentos do nazismo. A raiz do antissemitismo vem de muito antes, de uma construção do inimigo, que partiu de delírios e paranoias.
ÉPOCA - O personagem de O cemitério de Praga, Simone Simonini, parece concentrar todos os preconceitos e delírios europeus do século XIX. Ele é ao mesmo tempo antissemita, anticlerical, anticapitalicas e antissocialista. Como surgiu na sua mente alguém tão abominável?
Eco -
 Os críticos disseram que Simonini é o personagem mais horroroso da literatura de todos os tempos, e devo concordar com eles. Ele também é muito divertido. Seus excessos estão ali para provocar riso e revolta. No romance, Simonini é a única figura fictícia. Guarda todos os preconceitos e fantasias sobre um inimigo que jamais conhece. E se desdobra em várias personalidades: durante o dia, atua como tabelião falsificador de documentos; à noite, traveste-se em falso padre jesuíta e sai atrás de aventuras sinistras. Acaba virando joguete dos monarquistas, que se opõem à unificação da Itália, e, por fim, dos russos. Imaginei Simonini como um dos autores de Os protocolos dos sábios do Sião. 
ÉPOCA - A falsificação sobre falsificações permitida pela ficção tornou o livro controverso. Ele tem provocado reações negativas. O senhor gosta de lidar com polêmicas? 
Eco - A recepção tem sido positiva. O livro tem feito sucesso sem precisar de polêmicas. Quando foi lançado na Itália, ele gerou alguma discussão. O L'osservatore Romano, órgão oficial do Vaticano, publicou um artigo condenando os ataques do livro aos jesuítas. Não respondi, porque sou conhecido como um intelectual anticlerical - e já havia discutido com a igreja católica no tempo de O nome da rosa, quando me acusaram de atacar a igreja. O rabino de Roma leu O cemitério de Praga e advertiu em um pronunciamento que as teorias contidas no livro poderiam se tornar novamente populares a partir da obra. Respondi a ele que não havia esse perigo. Ao contrário, se Simonini serve para alguma coisa, é para provocar nossa indignação.
ÉPOCA - Além de falsário, Simonini se revela um gourmet. Ao longo do livro, o senhor joga listas e listas de receitas as mais extravagantes, que Simonini comenta com volúpia. O senhor gosta de gastronomia?
Eco -
 Eu sou MacDonald's! Nunca me incomodei com detalhes de comida. Pesquisei receitas antigas com um objetivo preciso: causar repugnância no leitor. A gastronomia é um dado negativo na composição do personagem. Quando Simonini discorre sobre pratos esquisitos, o leitor deve sentir o estômago revirado.

ÉPOCA - Qual o sentido de escrever romances hoje em dia? O que o atrai no gênero?
Eco -
 Faz todo o sentido escrever ficção. Não vejo como fazer hoje narrativa experimental, como James Joyce fez com Finnegan's Wake, para mim a fronteira final da experimentação. Houve um recuo para a narrativa linear e clássica. Comecei a escrever ficção nesse contexto de restauração da narratividade, chamado de pós-modernismo. Sou considerado um autor pós-moderno, e concordo com isso. Vasculho as formas e artifícios do romance tradicional. Só que procuro introduzir temas que possam intrigar o leitor: a teoria da comédia perdida de Aristóteles em O nome da rosa; as conspirações maçônicas em O pêndulo de Foucault; a imaginação medieval emBaudolino; a memória e os quadrinhos em A misteriosa chama; a construção do antissemitismo em O cemitério de Praga. O romance é a realização maior da narratividade. E a narratividade conserva o mito arcaico, base de nossa cultura. Contar uma história que emocione e transforme quem a absorve é algo que se passa com a mãe e seu filho, o romancista e seu leitor, o cineasta e seu espectador. A força da narrativa é mais efetiva do que qualquer tecnologia.
ÉPOCA - Philip Roth disse que a literatura morreu. Qual a sua opinião sobre os apocalípticos que preveem a morte da literatura?
Eco -
 Philip Roth é um grande escritor. A contar com ele, a literatura não vai morrer tão cedo. Ele publica um romance por ano, e sempre de boa qualidade. Não me parece que nem o romance nem ele pretendem interromper a carreira (risos).
ÉPOCA - Mas por que hoje não aparecem romancistas do porte de Liev Tolstói e Gustave Flaubert?
Eco -
 Talvez porque ainda não os descobrimos. Nada acontece imediatamente na literatura. É preciso esperar um pouco. Devem certamente existir Tolstóis e Flauberts por aí. E têm surgido ótimos ficcionistas em toda parte.
ÉPOCA - Como o senhor analisa a literatura contemporânea?
Eco - 
Há bons autores medianos na Itália. Nada de genial, mas têm saído livros interessantes de autores bastante promissores. Hoje existe o thriller italiano, com os romances de suspense de Andrea Camilleri e seus discípulos. No entanto, um signo do abalo econômico italiano é que não é mais possível um romancista viver de sua obra literária, como fazia (Alberto) Moravia. Hoje romance virou uma atividade diletante. É diferente do que ocorre nos Estados Unidos, aindaum polo emissor de ótima ficção e da profissionalização dos escritores. Além dos livros de Roth, adorei ler Liberdade, de Jonathan Franzen, um romance de corte clássico e repleto de referências culturais. A França, infelizmente, experimenta uma certa decadência literária, e nada de bom apareceu nos últimos tempos. O mesmo parece se passar com a América Latina. Já vão longe os tempos do realismo fantástico de García Márquez e Jorge Luis Borges. Nada tem vindo de lá que me pareça digno de nota.
ÉPOCA - E a literatura brasileira? Que impressões o senhor tem do Brasil? O país lhe parece mais interessante hoje do que há 30 anos?
Eco -
 O Brasil é um país incrivelmente dinâmico. Visitei o Brasil há muito tempo, agora acompanho de longe as notícias sobre o país. A primeira vez foi em 1966. Foi quando visitei terreiros de umbanda e candomblé - e mais tarde usei essa experiência em um capítulo de O pêndulo de Foucault para descrever um ritual de candomblé. Quando voltei em 1978, tudo já havia mudado, as cidades já não pareciam as mesmas. Imagino que hoje em dia o Brasil esteja completamente transformado. Não tenho acompanhado nada do que se faz por lá em literatura. Eu era amigo do poeta Haroldo de Campos, um grande erudito e tradutor. Gostaria de voltar, tenho muitos convites, mas agora ando muito ocupado... comigo mesmo.
ÉPOCA - O senhor foi o criador do suspense erudito. O modelo é ainda válido?
Eco -
 Em O nome da Rosa, consegui juntar erudição e romance de suspense. Inventei o investigador-frade William de Baskerville, baseado em Sherlock Holmes de Conan Dolyle, um bibliotecário cego inspirado em Jorge Luis Borges, e fui muito criticado porque Jorge de Burgos, o personagem, revela-se um vilão. De qualquer forma, o livro foi um sucesso e ajudou a criar um tipo de literatura que vejo com bons olhos Sim, há muita coisa boa sendo feita. Gosto de (Arturo) Pérez-Reverte, com seus livros de fantasia que lembram os romances de aventura de Alexandre Dumas e Emilio Salgari que eu lia quando menino.
ÉPOCA - Lendo seus seguidores, como Dan Brown, o senhor às vezes não se arrepende de ter criado o suspense erudito?
Eco -
 Às vezes, sim! (risos) O Dan Brown me irrita porque ele parece um personagem inventado por mim. Em vez de ele compreender que as teorias conspiratórias são falsas, Brown as assume como verdadeiras, ficando ao lado do personagem, sem questionar nada. É o que ele faz em O Código Da Vinci. É o mesmo contexto de O pêndulo de Foucault. Mas ele parece ter adotado a história para simplificá-la. Isso provoca ondas de mistificação. Há leitores que acreditam em tudo o que Dan Brown escreve - e não posso condená-los.
ÉPOCA - O que vem antes na sua obra, a teoria ou a ficção?
Eco -
 Não há um caminho único. Eu tanto posso escrever um romance a partir de uma pesquisa ou um ensaio que eu tenha feito. Foi o caso de O pêndulo de Foucault, que nasceu de uma teoria. Baudolino resultou de ideias que elaborei em torno da falsificação. Ou vice-versa. Depois de escrever O cemitério de Praga, me veio a ideia de elaborar uma teoria, que resultou no livroCostruire il Nemico (Construir o Inimigo, lançado em maio de 2011). E nada impede que uma teoria nascida de uma obra de ficção redunde em outra ficção.

ÉPOCA - Quando escreve, o senhor tem um método ou uma superstição?
Eco -
 Não tenho nenhum método. Não sou com Alberto Moravia, que acordava às 8h, trabalhava até o meio-dia, almoçava, e depois voltava para a escrivaninha. Escrevo ficção sempre que me dá prazer, sem observar horários e metodologias. Adoro escrever por escrever, em qualquer meio, do lápis ao computador. Quando elaboro textos acadêmicos ou ensaio, preciso me concentrar, mas não o faço por método.
ÉPOCA - Como o senhor analisa a crise econômica italiana? Existe uma crise moral que acompanha o processo de decadência cultural? A Itália vai acabar?
Eco -
 Não sou economista para responder à pergunta. Não sei por que vocês jornalistas estão sempre fazendo perguntas (risos). Talvez porque eu tenha sido um crítico do governo Silvio Berlusconi nesses anos todos, nos meus artigos de jornal, não é mesmo? Bom, a Itália vive uma crise econômica sem precedentes. Nos anos Berlusconi, desde 2001, os italianos viveram uma fantasia, que conduziu à decadência moral. Os pais sonhavam com que as filhas frequentassem as orgias de Berlusconi para assim se tornarem estrela da televisão. Isso tinha de parar, acho que agora todos se deram conta dos excessos. A Itália continua a existir, apesar de Berlusconi.
ÉPOCA - O senhor está confiante com a junção Merkozy (Nicolas Sarkozy e Angela Merkel) e a ascensão dos tecnocratas, como Mario Monti como primeiro ministro da Itália?
Eco -
 Se não há outra forma de governar a zona do Euro, o que fazer? Merkel tem o encargo, mas também sofre pressões em seu país, para que deixe de apoiar países em dificuldades. A ascensão de Monti marca a chegada dos tecnocratas ao poder. E de fato é hora de tomar medidas duras e impopulares que só tecnocratas como Monti, que não se preocupa com eleição, podem tomar, como o corte nas aposentadorias e outros privilégios.
ÉPOCA - O que o senhor faz no tempo livre?
Eco -
 Coleciono livros e ouço música pela internet. Tenho encontrado ótimas rádios virtuais. Estou encantado com uma emissora que só transmite música coral. Eu toco flauta doce (mostra cinco flautas de variados tamanhos), mas não tenho tido tempo para praticar. Gosto de brincar com meus netos, uma menina e um menino.
ÉPOCA - Os 80 anos também são uma ocasião para pensar na cidade natal. Como é sua ligação com Alessandria?
Eco -
 Não é difícil voltar para lá, porque Alessandria fica a uns 100 quilômetros de Milão. Aliás foi um dos motivos que escolhi morar por aqui: é perto de Bolonha e de Alessandria. Quando volto, sou recebido como uma celebridade. Eu e o chapéu Borsalino, somos produção de Alessandria! Reencontro velhos amigos no clube da cidade, sou homenageado, bato muito papo. Não tenho mais parentes próximos. É sempre emocionante.